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Ying

Depois de design do blogue montado, ajustes finais feitos e coragem para começar, aqui estou eu, inaugurando mais um espaço. O "Outro ladO" - como sinalizado na descrição - é necessário. Na verdade, eu nem sei por quê estou escrevendo esta parte. Os meus outros blogues já estão definidos. Um deles, o CAIXA DE LEMBRANÇAS, permanece com o seu papel de reunir poemas e qualquer coisas com pretensões de arte que eu escreva, portanto, diverge do objetivo que me faz criar este. Já o primeiro a ser público, o Na Estrada, às vezes soa obsoleto, engessado, mas ainda viável de utilização, pois percebi nele uma oportunidade de estar em contato com aqueles que estão longe de mim. Ele foi criado há quase quatro anos e, de lá para cá, tanto mudou, tantas coisas se passaram... Escrevi ali que era um momento de mudança e, relendo-o, percebo que foi ali que começou o que hoje estou vivendo.

Hoje (como dito naquele 19 de agosto de 2007), eu me encontro em uma nova etapa da minha história. Um que não cabe mais naquele blogue de ares pueris que comecei. A minha vida atualmente está andando, é fato, mas sinto que existem coisas ainda não trabalhadas e que me impedem de ultrapassar a fronteira do "Na Estrada". É para ir além delas que crio agora este "Outro Lado", para que eu conheça quem é esse que digita, mas sem a sanção de ser observado por conhecidos, sem a preocupação de não corresponder a alguma personagem que se criou de mim. Estou num tempo diferente, longe da minha casa, daqueles com quem estabeleci laços, distante da minha terra. Eu não sei o que vai acontecer, no entanto eu paguei para ver; resolvi ir atrás do que acreditava. Não digo isso com a pretensão de me tornar exemplo, mas com a satisfação de quem teve menos medo e se jogou: "Com a perna no mundo", como já cantou Gonzaguinha, ou "Parte del Aire", como disse a minha caríssima Mercedes Sosa. Eu saí parte do ar e me sinto como parte do mundo.

Mas toda essa história já foi contada no blogue que tratou dessa minha mudança, do início, processo e efetivo engajamento no tal Caminho. Estou na estrada mesmo, e, por mais que me doa em certos momentos, não posso voltar. Por isso, a necessidade de novos registros, mais corajosos e cada vez mais reveladores. Não há mais porque para ser o que não sou. Já ouvi alguém dizer que quem é muito "certinho" a vida toda, numa hora ou noutra, acaba "se revoltando", pois bem, esse sou eu no momento: revoltado. Como grita Avril Lavigne em "What the Hell", eu venho sendo "certinho", mas o meu grito de revolta vem por meio da construção deste novo lugar, como uma espécie de manifesto de criação de um lugar novo, mas em folha. 

Assim como o "Na Estrada", a concepção deste espaço relaciona-se quase sexualmente com a literatura. Naquele, foi Kerouac em seu "On the Road" que me deu vontade de fazer algo parecido; neste o endereço traz à tona o conceito de "duplipensamento", vindo do livro "1984", de Orwell. Segundo o autor inglês, entre outras coisas, o duplipensamento é "saber e não saber, estar consciente de mostrar-se cem por cento confiável ao contar mentiras laboriosamente (...); esquecer tudo o que fosse preciso esquecer, depois reinstalar o esquecido na memória no momento em que ele se mostrasse necessário, depois esquecer tudo de novo sem o menor problema (...): induzir conscientemente a inconsciência e depois, mais uma vez, tornar-se inconsciente do ato de hipnose realizado pouco antes." (George Orwell, p. 48). Constatei que praticamos todos o duplipensamento tanto nesse nosso mundo admirável, que é até normal em certos graus. É, no entanto, tentando entrar no labiríntico duplipensar, que busco trazer à luz, e enfrentar, o outro lado; a banda humana disso de ser e não ser, ver e não ver, falar e calar, acreditar e desacreditar, que confunde e explica: uma daquelas metades do "Lobo da estepe", de Hesse, a qual eu preciso encarar para seguir seguro o rumo.

Sinto como se fosse a construção de algo que sempre esteve presente, mas em forma de materiais. Este outro lugar é a construção do ser humano que eu sempre sonhei ser, mas que cresceu e percebeu que nem sempre de sonho se consegue as coisas necessárias nesse mundo. Um ser humano que assiste a coisas e que não concorda com algumas, mas que tem que jogar um jogo incômodo, com gosto de groselha. É este ser humano que se quer verdadeiro, honesto consigo e com os outros, mas que precisa se ler constantemente. Um ser humano que precisa exercitar a sua humanidade, se quiser conservar a beleza daquele rapazola de vinte e pouquíssimo que deu início a uma trajetória que deve e haverá de ser brilhante.

Enfim, não será tão necessário os aplausos que eu acreditei ser tudo. Inicialmente, serão publicações semanais, a fim de eu tentar fazer um retrato de como estou eu nessa nova fase. Não abandonarei com isso os dois outros endereços; como já disse, são espaços com finalidades distintas, mas que cumprem seus papéis: o de me ajudar a viver nessa minha imensidade de inquietações.

Isto é exatamente o que diz meu coração agora.